Empresa rebate governo e expõe falhas da SETAS: 1.600 jovens desligados às pressas, inclusive grávidas e PCDs
- Wasthen Menezes

- há 12 minutos
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A divulgação de um suposto rombo de R$ 25,7 milhões no Programa Jovem Trabalhador caiu como uma bomba — e a gestão interina de Laurez Moreira não perdeu tempo em transformar o caso em vitrine política às vésperas do lançamento do novo programa estadual.
A secretária Ana Carina Mendes afirma que foram identificados 16.929 registros de frequência sem comprovação, que o caso foi comunicado ao Ministério Público, Tribunal de Contas e demais órgãos de controle, e que a interrupção do contrato é medida de “responsabilidade e prudência”. Paralelamente, divulga que um novo programa será lançado com mais vagas, maior alcance e novo formato — justamente agora.
A movimentação parece calculada:
a gestão expõe um escândalo justamente no momento em que precisa justificar a substituição do programa por outro que carrega sua própria marca política.
Mas o outro lado da história é explosivo — e precisa ser dito com a mesma força.
O que a empresa denuncia
A entidade responsável pelo programa, Demà (antes Renapsi), não apenas discorda da versão do governo, como parte para o ataque:
Afirma que sempre cumpriu o contrato e seguiu todas as regras.
Diz que as tarefas que o governo cobra dela eram, na verdade, responsabilidade da própria SETAS e dos supervisores municipais — exatamente o ponto que o governo tenta ocultar na narrativa.
Denuncia que o governo desligou 1.600 jovens de forma abrupta, incluindo grávidas, PCDs, indígenas, quilombolas e adolescentes vulneráveis.
Classifica a interrupção como “quebra de compromisso” com a juventude tocantinense.
Afirma que o impacto social é grave e que, por causa do modelo de contratação, os jovens desligados não podem ser transferidos para outro programa.
E deixa claro que buscará meios de garantir a continuidade da formação dos participantes — algo que o governo não explicou como pretende resolver.
Essa é uma acusação direta e pesada: segundo a entidade, o governo não apenas rompeu o contrato, mas interrompeu a vida profissional de jovens em vulnerabilidade, sem nenhuma transição estruturada.
O jogo político por trás da crise
Mesmo tendo comunicado MP e TCE, a gestão interina aproveita a denúncia para criar contraste:
o velho programa, cheio de falhas; o novo programa, moderno e “salvador”.
O timing é perfeito perfeito até demais.
A crítica não é sobre descobrir falhas. Isso é obrigação.
A crítica é sobre como essas falhas foram reveladas, quando foram reveladas e para qual narrativa servem.
A gestão interina quer entrar janeiro dizendo que herdou um caos e que reconstruiu tudo.
E esse escândalo, exposto exatamente na véspera do novo programa, cumpre esse papel como luva.
E quem perde?
Quem está no fogo cruzado são os jovens:
mais de 1.600 desligados sem aviso prévio;
muitos impossibilitados de migrarem para outra iniciativa;
formação interrompida;
renda cortada;
rotina desestruturada.
Enquanto governo e entidade trocam acusações, os jovens especialmente os mais vulneráveis pagam a conta.
No fim, fica claro que:
o governo transformou um problema real em palanque político;
a empresa devolveu com denúncias igualmente graves;
e o resultado é um cenário onde cada lado defende sua narrativa, mas nenhum parece realmente preocupado com quem ficou no meio do caminho.
NOTA
A Demà, lamentavelmente, informa a todos que o Governo do Estado do Tocantins, por meio da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), interrompeu o Programa Jovem Trabalhador, desligando mais de 1.600 jovens de forma imediata. A decisão foi comunicada oficialmente na tarde desta quinta-feira (27) e encerra a trajetória profissional de participantes, incluindo grávidas, PCDs, quilombolas, indígenas e adolescentes em vulnerabilidade social, interrompendo a qualificação e assistência que estava garantindo o primeiro emprego.
É importante ressaltar que a Demà sempre cumpriu o contrato seguindo todas as regras acordadas e manteve o seu papel de forma transparente, ética e profissional. Sobre as inconsistências alegadas pelo Governo do Estado do Tocantins, a entidade esclarece que as tarefas eram de responsabilidade da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas) e que não foram cumpridas de acordo com o combinado.
O programa foi criado para romper ciclos de vulnerabilidade com formação técnica de dois anos, renda mensal e assistência social.
Sua interrupção abrupta configura a quebra de um compromisso com a juventude tocantinense e o enfraquecimento de uma política pública essencial.
A Demà informa que buscará diálogo e apoio para que os jovens ativos possam concluir sua formação, garantindo dignidade e continuidade do aprendizado. O impacto social é agravado, pois a modalidade de contratação dos jovens impede a transferência dos participantes para outros programas.
Fonte: Gazeta do Cerrado




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