Quando o Supremo Serve e Quando Não? A hipocrisia de chamar a decisão Eduardo Siqueira de ‘paupérrima’ e os cúmplices de um crime
- Wasthen Menezes
- há 12 minutos
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A prisão do prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, não é baseada em fofocas, nem em “fuxicos de bastidores”, como insinua um jornalista local que tenta desqualificar a gravidade dos fatos revelados pela Polícia Federal e confirmados pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao chamar a decisão de “paupérrima”, esse jornalista escancara o duplo padrão que vigora em parte da imprensa regional.
O mesmo comentarista que vibrou com a atuação dura do STF contra bolsonaristas, que não hesitou em defender prisões com base em indícios e delações, agora perde o pudor para atacar o próprio Supremo — mas só porque a decisão atinge um de seus aliados.
Que fique claro: Eduardo Siqueira Campos está preso preventivamente por ordem do STF, após investigações da PF indicarem que ele chefiava um esquema criminoso voltado a sabotar ações da Justiça e da própria polícia federal. O caso envolve monitoramento de agentes federais, vazamento de informações sigilosas, tráfico de influência e possível corrupção passiva. As mensagens interceptadas falam por si: aliados do prefeito sabiam quando e como equipes da PF estavam chegando a Palmas e tentavam descobrir seus alvos.
Por que Eduardo Siqueira está preso antes do julgamento?
A prisão preventiva é uma medida excepcional prevista na lei para garantir que o acusado não atrapalhe as investigações, cometa novos crimes ou fuja da Justiça. Não é condenação antecipada, mas uma proteção ao processo penal. No caso de José Eduardo Siqueira Campos, o STF determinou sua prisão após identificar fortes indícios de que ele comandava uma organização criminosa que monitorava agentes da Polícia Federal, vazava informações sigilosas e tentava sabotar operações em curso. A Justiça entendeu que, solto, ele poderia interferir no andamento das investigações e pressionar testemunhas, o que justifica sua detenção antes do julgamento.
O ministro Zanin foi direto:
“Os investigados monitoravam membros da PF, antecipando operações e impedindo o êxito de ações destinadas a desbaratar organização criminosa.”
Isso não é suposição. São fatos documentados, com base em provas e análise técnica.
A imprensa que relativiza
Diante disso, é inaceitável ver portais locais tentarem relativizar o que está acontecendo, tratando a decisão como “politicagem” ou resultado de “fofoca jurídica”. Não há nada de “paupérrimo” numa decisão que apresenta indícios concretos, baseados em meses de investigação, com mandados cumpridos em vários estados e prisão de figuras públicas com papel central no esquema.
Mas há sim, paupérrima é a tentativa de distorcer os fatos para proteger aliados políticos. Paupérrima é a cobertura enviesada, onde o mesmo jornalista que defende a Justiça com fervor quando ela atinge seus adversários, a acusa de parcialidade quando seus aliados caem. Essa incoerência é a verdadeira afronta à democracia.
A vergonha da Câmara e dos vereadores “de oposição”
Como se não bastasse a imprensa parcial, a Câmara Municipal de Palmas se superou na omissão e no teatro político. Vários vereadores — inclusive eleitos como oposição — correram para publicar notas de apoio e postagens emocionadas ao lado de Eduardo Siqueira, como se ele estivesse morrendo e não preso por ordem do STF, acusado de chefiar uma organização criminosa.
Fotos sorridentes, frases de solidariedade, discursos de lealdade... Mas e o povo? Há alguma nota de apoio ao povo? Não. Para os pais de alunos da rede municipal sem merenda, para os professores humilhados, para quem sofre nas filas das UPAs da capital — nada. Nenhuma linha. Nenhum gesto.
A mesma Câmara que silencia sobre os desmandos da Secretaria de Educação, que não fiscaliza os contratos milionários, que ignora a situação da saúde, agora corre para abraçar o prefeito investigado, com direito a “concentração de oração” e aparição em massa de parlamentares antes sumidos. Todos aparecem juntos — traidores do povo.
O caso é grave. Muito grave.
A tentativa de mobilizar atos públicos, pressionar parlamentares e silenciar a imprensa local mostra que a crise não é apenas jurídica — é política e institucional. Segundo o site Diário Tocantinense [ https://share.google/nubyU1zEB0o3BiK8j ], o gabinete de Eduardo Siqueira teria pressionado vereadores, jornalistas e meios de comunicação para manifestarem apoio ou, no mínimo, se calarem. A prática não só revela desespero, mas afronta à liberdade de imprensa e ao debate público.
Aos que dizem que “não há crime”, vale lembrar que o Código Penal define corrupção não apenas como recebimento de dinheiro, mas qualquer vantagem indevida ou uso do poder público para proteger aliados e obstruir a Justiça. Isso é exatamente o que está em apuração.
Não há espaço para hipocrisia seletiva. Ou se defende o Estado de Direito sempre — inclusive quando ele alcança os “de casa” — ou não se defende nunca. O que está em jogo é muito mais do que o futuro de um político: é o respeito às instituições, às provas e à Justiça.
Quem tenta blindar Eduardo Siqueira hoje com argumentos rasos, joga contra a seriedade das investigações da polícia federal e de uma decisão que não foi tomada na primeira hora pelo ministro que não está livre de erros, pelo contrário houve uma busca e apreensão na casa de José Eduardo Siqueira Campos em maio, o julgador hesitou a prisão, no entanto, após novas provas o julgador obteve elementos suficientes para decidir a prisão. E isso, sim, é paupérrimo.
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